FILME PRECIOSA
O filme conta a história da garota Clareece Precious (Gabourey Sidibe), 16 anos, grávida do seu segundo filho e constantemente abusada verbalmente pela mãe e sexualmente pelo pai.
A temática do filme já é bastante pesada. Pensar numa garota monstruosamente gorda, negra, pobre e moradora do subúrbio americano já é pensar em diversos problemas sociais. Impressionamos-nos mais ainda quando vemos em cena Sidibe como a protagonista, com cara de poucos amigos, mas ao mesmo tempo de uma infantilidade que não condiz com sua condição de mãe. É o contraponto e a realidade que nós do Brasil conhecemos bem: preta, pobre e sem perspectivas de vida, o que fazer então para continuar vivendo?
A própria Precious já pensou na morte – e quem não pensaria? A realidade desgraçada dela ainda é pior se analisada à luz de sua relação materna. A mãe da protagonista é interpretada com assustadora realidade pela comediante Mo´Nique, uma atuação que rouba todos os holofotes. É nela que vemos refletida um sistema social e econômico bárbaro, a personificação de todos os erros do capitalismo. O ambiente em que Precious vive, portanto, é o pior possível. Na escola, ela não encontra nada. Na rua, só desprezo e solidão. Em casa, só o que salva são seus sonhos e a televisão.
Para tentar suavizar toda essa camada grossa de crueldade, o diretor Lee Daniels apostou em contrapontos de cena, ou seja, ao mostrar alguma coisa ruim que acontece com Precious, ele mostra ao mesmo tempo os sonhos da garota. Por um lado funciona, mas como isso se repete inúmeras vezes, torna-se um recurso enfadonho e cansa espectador. A “suavizada” de Daniels funciona, porém, quando estamos diante da relação entre Precious e Sra. Rain, a professora interpretada por Paula Patton. Ela se sai muito bem, não parece se esforçar para demonstrar carinho nem eficiência em seu posto de mentora para a jovem.
O roteiro escorrega em alguns momentos e passa a explorar em demasia diálogos que não vão a lugar algum. Assim a história fica um pouco chata, repetitiva, pois os acontecimentos simplesmente não se desenrolam. Repare nos diálogos com a assistente social interpretada por Mariah Carey. Elas conversam, falam, dialogam e nada. O “nada” vai a “lugar algum”. Somente no final, na última cena, Carey mostra a que veio. Mesmo assim, ela força muito a barra para conseguir dar uma clareza e realidade à sua personagem – e o pior é quando ela é posta na mesma cena que Mo´nique, justo a cena que dará o Oscar à atriz.
Mesmo com um desfecho coerente e esperançoso – depois de tanta realidade nua e crua, o que esperar, não é verdade? -, a impressão muitas vezes é que estamos diante de um programa de Oprah Winfrey. Com depoimentos longos e choros descompensados, “Preciosa” flui, em diversos momentos, como se estivéssemos vendo uma das milhares de entrevistas sensacionalistas da estrela da TV americana. Ainda bem que é só em alguns instantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário